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  • Foto do escritorOdmir Fortes

A Fé em mundos de Fantasia


Salve leitores do RPG Noticias, cá estou eu marcando a minha volta a esse blog com um texto que a muito tempo quero fazer, pra ser mais preciso desde 2021 quando assisti o anime Faraway Paladin de Kanata Yanagino, que foi de longe uma das melhores representações animadas da relação entre devotos e divindades que vi, e acredito que traz a tona algumas discussões muito interessantes sobre a questão religiosa em jogos de fantasia.


A história acompanha a vida de um jovem que cresce e se torna arauto de uma divindade que possui poucos devotos pelo mundo, partindo assim em uma jornada para espalhar a palavra dela enquanto combate seus inimigos jurados (demônios e mortos vivos). O anime está disponível na crunchyroll legendado e dublado, para quem tiver interesse, mas vamos deixar de papo furado e ir direto ao ponto.



Uma questão de fé.


No nosso mundo, uma definição comum para fé é a “crença absoluta em algo sem provas da sua existência”, tipicamente na maioria das religiões sendo a crença em uma ou mais divindades que não se tem como provar cientificamente sua existência. Entretanto diferente do nosso mundo, nos principais mundos de fantasia, a existência de uma divindade é um fato cientifico que pode ser comprovado, e portanto negar a existência de tais divindades beira o terraplanismo.


Clérigos realizam curas milagrosas em nome de seus deuses, de fato, alguns indivíduos até conseguem voltar do mundo dos mortos através do poder divino da ressurreição (e comprovar a existência do pós-vida). Alguns magos poderosos até podem visitar os planos divinos ou trocar uma palavra com os deuses; Em um mundo com tanta certeza da existência do poder divino, fé como conhecemos perde o sentido, e deve então adotar outras definições.


A fé de certa forma chega a ser instrumentalizada e transformada em parte direta da vida das pessoas. Uma aldeã de Forgotten Realms poderia rezar no seu dia-a-dia para Chauntea pedindo uma boa colheita, ao se apaixonar por alguém, seria a ajuda de Sune que ela pediria em suas orações, e ao engravidar a Lathander, para que sua criança nascesse forte e saudável. Sua devoção seria demonstrada por ações, sacrifícios, mas ao mesmo tempo a aldeã espera que as divindades intercedam por seus pedidos, como se estivessem numa relação de troca, e aqueles pedidos mais importantes pra ela provavelmente vão ditar com quais divindades ela vai ter mais proximidade.


E como deu pra perceber, a fé acaba sendo uma moeda de troca entre devoto e divindade. As razões de por que divindades se importam com ela acabam sendo mais misteriosas e variam mais entre cenários. Em alguns jogos por, a fé é o “combustível divino” que fortalece a divindade, de fato, no livro Divindades e Semideuses possuía até uma escala de poder divino para medir o quão forte era uma divindade, com base em diversos fatores, inclusive popularidade e devotos. No mundo de Tormenta, até era possível que meros mortais virassem divindades menores caso conseguissem entre outras coisas, cerca de mil devotos dedicados a eles (e apenas eles), o que lhes concedia poderes fabulosos.


Nesse sentido podemos tratar a fé como a demonstração de uma devoção, e não a crença em si. Ela advém dos sacrifícios, seja através da imposição de costumes, sacrifício de tempo em orações, esforço em trabalhos em prol da divindade ou mesmo de vidas, sejam de animais ou de outros seres.


O Papel do Clero

Assim como no nosso mundo, a função do clero é de guia espiritual e intermediário entre homem e divindade. E, de certa forma, é ele quem “vende o peixe” da sua divindade padroeira. Realizar curas e milagres é uma forma de demonstrar o favor divino e o valor que aquela divindade vai ter para a comunidade onde o clérigo se estabelece. Até mesmo clérigos-guerreiros e paladinos, atuam como arautos, levando a palavra para lugares remotos e perigosos, mostrando o poder e fúria dos deuses para com aqueles que vão contra o seus preceitos religiosos.


De fato, em vários cenários a disputa entre divindades rivais acaba sangrando para seus devotos, causando verdadeiras “guerras santas” entre eles. Um exemplo comum pra nós brasileiros é o anime Cavaleiros do Zodíaco, onde os santos de Atena lutam até a morte contra os de Poseidon e Hades, seus deuses rivais. Claro, algumas divindades e clérigos mais inclinados para o mal podem usar do medo e intimidação para conseguir mais devotos, e mesmo que essas pessoas não sejam inclinadas a adorar tal divindade, elas ainda assim demonstraria sua devoção, o que agradaria tal divindade e dependendo do jogo a fortaleceria.


Aqui também podemos ver que nem sempre a visão do clero vai ser uniforme em relação a uma divindade, e pode até mesmo criar rivalidade entre visões diferentes sobre a mesma. Em Star Wars, a crença na força é semelhante a uma religião, e tanto Sith quanto Jedi possuem em seu próprio credo uma forma diferente de se devotar a força, seja pelo lado mais emocional e colérico, ou por outro mais racional e estoico.


Trazendo tudo isso pra sua mesa de RPG


Bem, agora que nós tivemos um papo bem filosófico sobre o papel das religiões em fantasia, como isso pode afetar o seu jogo? Bem, aqui as coisas ficam um pouco mais complicadas. Depende muito da mesa de jogo, mas para facilitar a minha vida, vou partir do pre-suposto que você deseja colocar esses elementos em sua mesa. Então a pergunta é: Como colocar fé e religião como partes do mundo de campanha e da vida dos Personagens.


O primeiro passo, é fazer com que os jogadores vejam os NPCs fazendo preces e rituais para diversas divindades ao longo do jogo, talvez uma festa da colheita em que o povo dance e agradeça aos deuses pela fartura. Ou em jogos mais dark fantasy, um julgamento de heresia em praça pública. É importante salientar que deve-se evitar exageros, pra não tornar esse elemento algo banal. Tudo bem, ser comum que camponeses façam um gesto com a mão sempre que alguma coisa boa aconteça em suas vidas, já um senhor fazendo um sermão apocalíptico no meio da cidade não deve ser usado o tempo todo, ou perderá qualquer impacto.


O segundo ponto é pensar em como a organização do mundo de campanha se relaciona com as divindades. Ordens de cavalaria? Templos que ensinam crianças a ler? Chefes Xamânicos que atuam como líderes e conselheiros em tribos e vilas? As possibilidades são infinitas, mas tente pensar em algo que seja fácil de usar na sua mesa, que você consiga manter uma certa consistência em seu uso. Em pathfinder,divindades que combatem mortos-vivos são adoradas com frequência em regiões próximas ao ultimuro, se alguma cidade ao invés disso possui um templo dedicado a uma divindade que costuma criar mortos-vivos, ela irá naturalmente se sobressair, então deverá ser algo especial e marcante.


O terceiro ponto é na relação entre os jogadores e esses deuses. O quanto dos deuses influenciam no modo de vida de seus devotos, são ciumentos? Dão algum poder divino para quem os cultua? Em Tormenta deuses cocedem poderes para aqueles que voluntariamente cumprem uma série de obrigações e restrições, ao mesmo tempo que esses devotos são pessoas que realmente dedicam parte de sua vida a seguir um dogma especifico, como por exemplo, devotos de Tenebra a deusa da noite, que jamais podem deixar a luz do sol tocar seus corpos. Em outros jogos como Dungeons & Dragons não existe a principio um dogma que alguém precise cumprir para receber o favor divino, ao mesmo tempo que apenas personagens de classes "divinas" como clérigos e paladinos recebem algum poder deles.


Essas duas abordagens geram visões diferentes da influência dos deuses sobre o mundo. Na primeira todos podem ter um contato direto com o poder divino, na segunda apenas os eleitos é que podem atuar como intermediarios desse poder, quase que como profetas. Mas ambas trazem um contato direto do jogadores com esse lado espiritual do jogo, sejam devotos ou evangelizadores.


Considerações Finais


Esse é um tema que poderia até me debruçar mais sobre, e talvez no futuro tenhamos alguma coisa a mais. Mas acredito que o que temos aqui já é um bom ponto de partida para iniciar uma discussão saudável sobre o assunto. Alem disso, estou muito curioso pra ver o que vocês acham sobre o assunto nos comentários!


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